
METANFETAMINAS
Interações farmacológicas
Todos os xenobióticos que interfiram com o metabolismo da metanfetamina e/ou com o seu mecanismo de ação vão provocar uma interação que causará uma alteração na toxicidade e/ou efeitos farmacológicos, com consequências imprevisíveis e muitas vezes devastadoras. Efetivamente, são vários os xenobióticos (farmacológicos e não farmacológicos) que interferem farmacodinâmica e farmacocineticamente com a metanfetamina.

Álcool [1,2,3,4]
O consumo concomitante de etanol e metanfetamina é bastante comum. A principal razão para tal é devido aos efeitos de euforia, diminuição da sedação e uma aparente maior capacidade/performance. As interações entre estas substâncias podem ser de caracter antagónico ou sinérgico.
A interação do etanol com a metanfetamina traduz-se em:
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Aumento dos níveis de metanfetamina em circulação, pois verifica-se a diminuição da velocidade do seu metabolismo
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Aumento de 2,5 vezes o risco de doenças neuropsiquiátricas
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Desregulação na produção de citocinas pró e anti-inflamatórias
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Defeito na homeostasia imunológica (supressão de células T CD4 e aumento de células NK)
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Aumento da pressão arterial
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Diminuição da hipertermia causada pelas anfetaminas
Está demonstrado que o co-consumo destas duas substâncias provoca danos musculares e efeitos negativos a nível cardiovascular (aumento do trabalho cardíaco), hepático, renal e neuroendócrino.

Cafeína [1]
A cafeína é mais um dos xenobióticos mais co-consumidos com a metanfetamina com o objetivo de diminuir a fadiga e o sono, sendo proveniente de cafés, refrigerantes e bebidas energéticas. A interação entre estas duas substâncias leva a um aumento da toxicidade das anfetaminas pois verifica-se:
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Aumento da absorção intestinal de anfetamina
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Aumento a secreção de dopamina
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Aumento da hipertermia causada pelas anfetaminas;
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Taquicardia e perda de peso

Cocktail de drogas recreativas [1,5]
O uso concomitante de outras drogas como a a cocaína, LSD, cannabis, entre outras com a metanfetamina é também comum. Este co-consumo provoca uma estimulação simpaticomimética excessiva levando à desidratação, hipertermia e complicações cardiovasculares.
A cocaína potencia os efeitos neurológicos das anfetaminas por aumento da libertação de dopamina, serotonina e noradrenalina, contribuindo para a neurotoxicidade destas drogas.
Relativamente ao recurso de mistura de anfetaminas, estão também descritos um aumento da neurotoxicidade por stress oxidativo e intoxicações fatais caracterizadas por coagulação disseminada devido à hipertermia.
Para além destas interações farmacodinâmicas, muitos destes xenobióticos apresentam vias metabólicas semelhantes com as da metanfetamina, resultando em interações farmacocinéticas. Por exemplo, a cocaína é um inibidor de determinadas isoenzimas da CYP450 (CYP2D6), reduzindo assim o metabolismo de anfetaminas e consequentemente aumentando os níveis destas em circulação.

Tabaco [1]
Os constituintes do tabaco são potentes indutores das isozenzimas do CYP450 e da UGT - interferência com a via metabólica da metanfetamina.
Para além disso, observa-se um aumento da secreção de diversos neurotransmissores como a acetilcolina, a dopamina, a noradrenalina, a serotonina e as endorfinas, causando interferência farmacodinâmica com a metanfetamina.

Antidepressivos [1,4,6]
O uso simultâneo de anfetaminas e antidepressivos como os inibidores da monoamina oxidase (IMAO), os antidepressivos tricíclicos e os SSRIs pode resultar tanto em crises de hipertensão graves, como em arritmias e taquicardias, uma vez que estes fármacos potenciam a atividade noradrenérgica.
Para além disso, estes causam inibição da CYP2D6, o que causa um aumento da atividade biológica das anfetaminas bem como dos seus efeitos adversos. Os inibidores mais potentes são a paroxetina e a fluoxetina.

Antirretrovirais [1,4]
Muito relevante, dado que os portadores de HIV são grupos de risco de consumo de anfetaminas e outras drogras recreativas. Estão descritas interações potencialmente fatais como, por exemplo, o ritonavir. Estes fármacos são potentes inibidores da CYP450, nomeadamente do CYP2D6, potenciando os efeitos das anfetaminas por diminuição do seu metabolismo.

Anti-hipertensores (betabloqueadores) [1,4,6]
Outra interação comum e potencialmente perigosa ocorre com os agentes anti-hipertensores, como os betabloqueadores (propranolol, atenolol...), sendo caracterizada por hipertensão não controlada, bradicardia e potencial bloqueio cardíaco devido à estimulação dos receptores alfa-adrenérgicos (recetores beta estão bloqueados).

Alcalinizadores da urina [4,6]
O uso concomitante de metanfetaminas e antiácidos contendo iões cálcio e/ou magnésio, inibidores da anidrase carbónica, citratos e bicarbonato de sódio (que alcalinizam a urina), pode aumentar os efeitos produzidos pela metanfetamina por aumento da sua reabsorção tubular.
Bibliografia
[1] Carvalho, M et al. ( 2012) Toxicity of amphetamines: an update. Archives of Toxicology. 86, 1167–1231
[2] http://www.drugs.com/drug-interactions/methamphetamine.html
[3] Ellenhorn, M.J.; Schonwald, S.; Ordog, G.; Wasserberger, J. Ellenhorn's Medical Toxicology: Diagnosis and Treatment of Human Poisoning. 2nd ed. Baltimore, MD: Williams and Wilkins, 1997., p. 344
[4] Dean, A. (2006) Illicit drugs and drug interactions. Australian Pharmacist. 25(9), 684-689
[5] Leon Brown, P.; et al. (2003) Brain Hyperthermia Is Induced by Methamphetamine and Exacerbated by Social Interaction. The Journal of Neuroscience. 23(9), 3924 –3929
[6] USP. Convention. USPDI - Drug Information for the Health Care Professional. 19th ed. Volume I. Micromedex, Inc. Englewood, CO., 1999. Content Prepared by the U.S. Pharmacopieal Convention, Inc., p. 95